Dª. Inês Cremilde da Silva
Perdoem-me mas ontem, na excelente sessão de abertura da Semana dos Baleeiros 2010, na sede da centenária Filarmónica Liberdade Lajense – que já merece “ar condicionado” para estes eventos – voltei a relembrar que esta é para muitos de nós e acima de tudo, a Festa de Nª. Sª. de Lurdes, como muito bem relembrou o novo edil lajense Eng. Roberto Silva.
É de enaltecer o espírito inovador que esteve presente, contando com sala cheia: as canções vencedoras do Festival Baleia de Marfim que muito bem cantaram e encantaram. O lugar das crianças continua e continuará a ser o tal espaço de candura e de encanto únicos…
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Uma nota para relevar a presença, nem sei há quantos anos que tal não era perceptível, de representantes das vereações camarárias de São Roque (duas) e da Madalena, bem como e também dos ilustres Presidente da Assembleia Municipal, Ouvidor do Pico, Párocos da Zona Pastoral das Lajes e Ponta da Ilha e o Director Regional da Cultura, em representação do Presidente do Governo Regional. O Grupo Coral das Lajes encerrou a sessão merecendo o aplauso daqueles que o gostam de ouvir e continuam a ser muitos os que, mesmo arrostando com o calor húmido da sede da F. L. L., não os impediu de participarem nessa grande noite cultural e de aplaudirem de pé no fim, entusiasticamente e calorosamente, a actuação desses melómanos amadores, excelentemente orientados pelo maestro Sr. Comendador Emílio Porto. Mais vale quem faz, do quem pode mas não quer fazer…
Na sequência habitual da noite de abertura, desta vez defronte do Museu dos Baleeiros – as nossas Casas dos Botes da Lagoa de cima (alguém ainda se lembra deste epíteto? – com o cheiro agradável a maresia, o concerto da Filarmónica Lajense cativou centenas de amantes da arte musical que pelos muros, bancos e passeando, para ali acorreram, já que o Cantinho das Terras abria as suas portas em local condigno, atrás do palco principal, melhorando sempre e procurando a excelência, seja pela qualidade dos cómodos e envernizados bancos e mesas, seja pela delicadeza e afabilidade do serviço…
E por falar nas Terras, no ano passado associei o extraordinário espírito de entre-ajuda que este movimento social patenteia, ao seu conterrâneo, artista e pintor António Duarte Pimentel.
Agora, em 2010, quero deixar a minha homenagem à Dª. Inês Cremilde da Silva – a senhora professora das Terras – como foi conhecida por três gerações de residentes naquele ridente subúrbio lajense.
Conheci e convivi, desde menino com a Sra. D.ª Inês Cremilde, como era conhecida lá em casa. Com ela calcorreei, a pé, pela antiga ladeira da vila, até às Terras, à sua Escola (uma atafona não caiada, com soalho esburacado, loja térrea e uma retrete fora) … mas durante anos e anos, indo diariamente a pé, a D.ª Inês Cremilde serviu e instruiu, como soube, as crianças das Terras, preocupando-se imenso, como também algumas vezes constatei, com o bom desempenho dos seus alunos, nos exames obrigatórios do 2º e 3º grau e mais tarde da 4.ª classe do ensino primário. Um dia adquiriu um VW que lhe facilitou o percurso nos últimos anos do seu sempre empenhado desempenho profissional como Senhora Professora das Terras. Foi também durante anos Delegada do programa americano de apoio escolar aos carenciados People to People, o tal do queijo amarelo e do leite em pó…
Faleceu este ano, depois de a ter visitado no dia de São Pedro, então já acamada e praticamente invisual, ainda me conhecendo e relembrando algumas das nossas esperançosas e juvenis promessas de vida: eu padre e ela me acompanhando; deixam agora de ser ou deveriam continuar confidenciais (?); mas certo fica que essa criança de então ainda hoje carinhosamente a recorda com imensa ternura e assim continuará…
Sei que quase todos os seus alunos das Terras comungam comigo esta pequena mas justíssima homenagem, que hoje aqui deixo plasmada neste velhinho jornal que, também por isto, vai cumprindo o seu “DEVER”…
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